Mesmo levando em consideração a boa vontade das fabricantes, a comunidade parece insatisfeita com certas decisões. Às vezes, dá vontade de entregar o documento completo com o conteúdo escrito de cada game na mão dos jogadores e dizer: “Quer saber? Façam vocês mesmos!”. Brincadeiras à parte, a Valve fez algo que dá margem à capturar o que soa natural à comunidade gamer e usá-los em seu conteúdo: Counter-Strike: Global Offensive e Dota 2 já estão em português para seu lançamento oficial.
É isso aí: tive a oportunidade de entrevistar Bárbara Velho Barreto – representante de tudo relacionado à língua portuguesa na casa de Gordon Freeman e GLaDOS – e Bernardo Lopes, moderador da iniciativa Steam Translation Server no Brasil, para saber mais detalhes dos jogos da Valve traduzidos para o nosso idioma. Leia a matéria completa no Arena iG! [Atualização: Versão na íntegra no link abaixo!]
Passando o controle: Qual a sua opinião quanto a passar a tradução dos jogos pelo crivo dos jogadores?
Versão em português do novo Counter-Strike está quase pronta
Enquanto alguns fãs de videogame têm nos jogos um incentivo extra para aprender um novo idioma, há uma necessidade crescente de games lançados na nossa língua. Ainda que bem menos do que gostaríamos de ver, a demanda tem sido atendida pelas desenvolvedoras: nos últimos anos, tivemos títulos como StarCraft II, World of Warcraft, Killzone 3 e Uncharted 3: Drake’s Deception adequados ao português, em graus variados de complexidade da tradução.
Mesmo levando em consideração a boa vontade das fabricantes, a comunidade parece insatisfeita com certas decisões. Às vezes, dá vontade de entregar o documento completo com o conteúdo escrito de cada game na mão dos jogadores e dizer: “Quer saber? Façam vocês mesmos!”. Brincadeiras à parte, a Valve fez algo que dá margem à capturar o que soa natural à comunidade gamer e usá-los em seu conteúdo: Counter-Strike: Global Offensive e Dota 2 já estão em português para seu lançamento oficial.
O Arena trocou uma ideia com Bárbara Velho Barreto, coordenadora de língua portuguesa na Valve, e Bernardo Lopes, moderador do Steam Translation Server (STS) brasileiro.
Direto da base
Nativa de Recife, Bárbara tem 31 anos, é jornalista e mora em Washington – e é o principal elo entre os tradutores do STS e a produtora de Half-Life e Portal, entre tantos outros. “A localização atualmente é mista”, diz Bárbara. “Parte vem da [empresa de soluções de tradução] SDL, parte é feita in-house e outra parte é por voluntários. Usar a ajuda da comunidade para traduzir Dota 2 e Counter-Strike: Global Offensive fez sentido desta vez, já que os jogos são muito voltados a eles”.
Atualmente, a empresa de Washington tem as traduções de CS:GO, Team Fortress 2 e Dota 2 praticamente concluídas (“ainda estamos com um ou outro texto em inglês, que deve ser traduzido nos próximos dias”), além do cliente Steam e seu ecossistema – isto é, elementos como a loja e comunidade virtuais. Jogos mais antigos, como Half-Life 2, também poderão pintar em português. “Os jogos estão disponíveis no STS para serem traduzidos”, afirma Bárbara.
“Uma vez que os arquivos fiquem completos, é necessário esperar uma atualização do jogo, uns com mais frequências que outros”, afirma. De qualquer forma, mesmo jogos com uma parte ou outra ainda em inglês já podem ser testados em nossa língua, bastando trocar o idioma do Steam para “Português do Brasil” ou equivalente na configuração. Não se deixe enganar pelo “Português”, senão a surpresa com os “ecrãs” e demais termos dos nossos irmãos d’além-mar de Portugal é certa.
Enquanto isso, no Brasil…
Morador do Rio de Janeiro, Lopes é estudante de Ciência da Computação na UFF, participa do Steam Translation Server brasileiro desde novembro de 2010 e se tornou seu moderador em fevereiro de 2011. Lopes e Bárbara mantêm contato direto por email, chat de voz – e, naturalmente, pelo próprio Steam – em reuniões semanais para acompanhar o andamento do projeto voluntário.
“Atualmente temos 215 tradutores no STS brasileiro e sempre estamos recebendo mais candidatos”, afirma Lopes. “A quantidade de tradutores ativos tem oscilado entre 15 e 20 nos últimos dias”. Mas não ache que basta ter força de vontade e os diálogos de GLaDOS cairão no seu colo: para ingressar no grupo, é necessário preencher um formulário de inscrição online e fazer um teste. Todos os integrantes passaram por isso – e se você quiser fazer parte desta iniciativa, você também terá que mostrar sua habilidade.
Quanto a evitar expressões específicas demais a uma região (ou, pior ainda, que sejam ofensivas!), a abordagem tomada é a do uso de neutralidade de termos: “caso a situação não esteja fácil, organizamos uma reunião interna para decidir antes de continuar com a tradução. A equipe ativa do STS Brasil felizmente contém membros de várias partes do País, o que acredito que seja um fator que nos ajuda a detectar e evitar / remover regionalismos”.
Naturalmente, a combinação deste esmero em contornar os regionalismos e as regras de estilo da Valve também requerem uma boa dose de jogo de cintura, improviso e versatilidade. “Uma situação recente foi a da tradução dos itens do Team Fortress 2, cujos nomes muitas vezes fazem referências e/ou usam-se de trocadilhos que não funcionariam no português ou mesmo não fariam sentido para os brasileiros”, conta Lopes.
O moderador dá um exemplo de um dos personagens mais reconhecíveis de TF2: “as luvas do Heavy, cujos nomes abreviados são KGB e GRU, o que nos obrigou a alterar os nomes completamente (no caso, de “Killing Gloves of Boxing” para “Kríticos Garantidos no Boxe” e de “Gloves of Running Urgently” para “Geradoras de Rapidez Urgente“, respectivamente) para mantermos as referências intactas.”
E o futuro?
O lançamento do português do Brasil no Steam aconteceu em setembro de 2011, e Bárbara acredita que a adoção ampla do idioma se dá no intervalo entre 1 e 2 anos. Embora o sonho de ver os jogos da Valve dublados em português ainda seja nebuloso (“Os idiomas oferecidos em jogos anteriores – alemão, francês, espanhol, italiano e russo – estão previstos no momento”, diz Bárbara), a empresa não descarta esta possibilidade.
Enquanto isto, as legendas em português seguem firmes e fortes; Lopes acredita que as localizações de Portal 2 e CS:GO para o nosso idioma fiquem prontas em breve. Ele também revela que o primeiro Portal já teve sua tradução concluída, mesmo que esta ainda não tenha sido lançada oficialmente.
Se você ainda acha que pode colaborar com o projeto com sugestões, críticas e, é possível entrar em contato com o STS brasileiro via Twitter. Ou, já que você quer tanto participar, por que não tenta se inscrever no projeto e fazer parte da história da Valve em português do Brasil? A comunidade de jogadores daqui agradece.
Mesmo levando em consideração a boa vontade das fabricantes, a comunidade parece insatisfeita com certas decisões. Às vezes, dá vontade de entregar o documento completo com o conteúdo escrito de cada game na mão dos jogadores e dizer: “Quer saber? Façam vocês mesmos!”. Brincadeiras à parte, a Valve fez algo que dá margem à capturar o que soa natural à comunidade gamer e usá-los em seu conteúdo: Counter-Strike: Global Offensive e Dota 2 já estão em português para seu lançamento oficial.
É isso aí: tive a oportunidade de entrevistar Bárbara Velho Barreto – representante de tudo relacionado à língua portuguesa na casa de Gordon Freeman e GLaDOS – e Bernardo Lopes, moderador da iniciativa Steam Translation Server no Brasil, para saber mais detalhes dos jogos da Valve traduzidos para o nosso idioma. Leia a matéria completa no Arena iG!
Passando o controle: Qual a sua opinião quanto a passar a tradução dos jogos pelo crivo dos jogadores?
Versão em português do novo Counter-Strike está quase pronta
Enquanto alguns fãs de videogame têm nos jogos um incentivo extra para aprender um novo idioma, há uma necessidade crescente de games lançados na nossa língua. Ainda que bem menos do que gostaríamos de ver, a demanda tem sido atendida pelas desenvolvedoras: nos últimos anos, tivemos títulos como StarCraft II, World of Warcraft, Killzone 3 e Uncharted 3: Drake’s Deception adequados ao português, em graus variados de complexidade da tradução.
Mesmo levando em consideração a boa vontade das fabricantes, a comunidade parece insatisfeita com certas decisões. Às vezes, dá vontade de entregar o documento completo com o conteúdo escrito de cada game na mão dos jogadores e dizer: “Quer saber? Façam vocês mesmos!”. Brincadeiras à parte, a Valve fez algo que dá margem à capturar o que soa natural à comunidade gamer e usá-los em seu conteúdo: Counter-Strike: Global Offensive e Dota 2 já estão em português para seu lançamento oficial.
O Arena trocou uma ideia com Bárbara Velho Barreto, coordenadora de língua portuguesa na Valve, e Bernardo Lopes, moderador do Steam Translation Server (STS) brasileiro.
Direto da base
Nativa de Recife, Bárbara tem 31 anos, é jornalista e mora em Washington – e é o principal elo entre os tradutores do STS e a produtora de Half-Life e Portal, entre tantos outros. “A localização atualmente é mista”, diz Bárbara. “Parte vem da [empresa de soluções de tradução] SDL, parte é feita in-house e outra parte é por voluntários. Usar a ajuda da comunidade para traduzir Dota 2 e Counter-Strike: Global Offensive fez sentido desta vez, já que os jogos são muito voltados a eles”.
Atualmente, a empresa de Washington tem as traduções de CS:GO, Team Fortress 2 e Dota 2 praticamente concluídas (“ainda estamos com um ou outro texto em inglês, que deve ser traduzido nos próximos dias”), além do cliente Steam e seu ecossistema – isto é, elementos como a loja e comunidade virtuais. Jogos mais antigos, como Half-Life 2, também poderão pintar em português. “Os jogos estão disponíveis no STS para serem traduzidos”, afirma Bárbara.
“Uma vez que os arquivos fiquem completos, é necessário esperar uma atualização do jogo, uns com mais frequências que outros”, afirma. De qualquer forma, mesmo jogos com uma parte ou outra ainda em inglês já podem ser testados em nossa língua, bastando trocar o idioma do Steam para “Português do Brasil” ou equivalente na configuração. Não se deixe enganar pelo “Português”, senão a surpresa com os “ecrãs” e demais termos dos nossos irmãos d’além-mar de Portugal é certa.
Enquanto isso, no Brasil…
Morador do Rio de Janeiro, Lopes é estudante de Ciência da Computação na UFF, participa do Steam Translation Server brasileiro desde novembro de 2010 e se tornou seu moderador em fevereiro de 2011. Lopes e Bárbara mantêm contato direto por email, chat de voz – e, naturalmente, pelo próprio Steam – em reuniões semanais para acompanhar o andamento do projeto voluntário.
“Atualmente temos 215 tradutores no STS brasileiro e sempre estamos recebendo mais candidatos”, afirma Lopes. “A quantidade de tradutores ativos tem oscilado entre 15 e 20 nos últimos dias”. Mas não ache que basta ter força de vontade e os diálogos de GLaDOS cairão no seu colo: para ingressar no grupo, é necessário preencher um formulário de inscrição online e fazer um teste. Todos os integrantes passaram por isso – e se você quiser fazer parte desta iniciativa, você também terá que mostrar sua habilidade.
Quanto a evitar expressões específicas demais a uma região (ou, pior ainda, que sejam ofensivas!), a abordagem tomada é a do uso de neutralidade de termos: “caso a situação não esteja fácil, organizamos uma reunião interna para decidir antes de continuar com a tradução. A equipe ativa do STS Brasil felizmente contém membros de várias partes do País, o que acredito que seja um fator que nos ajuda a detectar e evitar / remover regionalismos”.
Naturalmente, a combinação deste esmero em contornar os regionalismos e as regras de estilo da Valve também requerem uma boa dose de jogo de cintura, improviso e versatilidade. “Uma situação recente foi a da tradução dos itens do Team Fortress 2, cujos nomes muitas vezes fazem referências e/ou usam-se de trocadilhos que não funcionariam no português ou mesmo não fariam sentido para os brasileiros”, conta Lopes.
O moderador dá um exemplo de um dos personagens mais reconhecíveis de TF2: “as luvas do Heavy, cujos nomes abreviados são KGB e GRU, o que nos obrigou a alterar os nomes completamente (no caso, de “Killing Gloves of Boxing” para “Kríticos Garantidos no Boxe” e de “Gloves of Running Urgently” para “Geradoras de Rapidez Urgente“, respectivamente) para mantermos as referências intactas.”
E o futuro?
O lançamento do português do Brasil no Steam aconteceu em setembro de 2011, e Bárbara acredita que a adoção ampla do idioma se dá no intervalo entre 1 e 2 anos. Embora o sonho de ver os jogos da Valve dublados em português ainda seja nebuloso (“Os idiomas oferecidos em jogos anteriores – alemão, francês, espanhol, italiano e russo – estão previstos no momento”, diz Bárbara), a empresa não descarta esta possibilidade.
Enquanto isto, as legendas em português seguem firmes e fortes; Lopes acredita que as localizações de Portal 2 e CS:GO para o nosso idioma fiquem prontas em breve. Ele também revela que o primeiro Portal já teve sua tradução concluída, mesmo que esta ainda não tenha sido lançada oficialmente.
Se você ainda acha que pode colaborar com o projeto com sugestões, críticas e, é possível entrar em contato com o STS brasileiro via Twitter. Ou, já que você quer tanto participar, por que não tenta se inscrever no projeto e fazer parte da história da Valve em português do Brasil? A comunidade de jogadores daqui agradece.