Grande parte das análises de jogos que vemos por aí termina com uma nota, seja ela alfanumérica, pictográfica… enfim, seja lá o que veículo que a publicar tenha servido. Enquanto avaliar obras e classificá-las deste jeito não é novidade (e assim sendo, muito menos exclusividade!) do mercado dos videogames, a importância delas passou a ter um peso totalmente diferente – e questionável por uma série de razões – depois do advento de agregadores de notas como o Metacritic – e em uma escala muito menor, o GameRankings.
Para quem não conhece, o Metacritic é um site que reúne notas de uma variedade de sites (não apenas de jogos — também inclui cinema, música, televisão e literatura) e entre seus leitores. As notas da imprensa especializada têm pesos diferentes, seguindo um critério do próprio site, e sua média ponderada se chama Metascore; já o somatório das notas dadas pelos leitores são uma média absoluta e separada do Metascore. O GameRankings faz mais ou menos o mesmo, mas apenas com médias aritméticas, e somente com jogos eletrônicos.
Enquanto é óbvio que as desenvolvedoras de jogos tentarão fazer um produto da melhor qualidade possível dentro do que o projeto prevê (inclua aí elementos como os sistemas nos quais estará disponível, orçamento, público-alvo, projeção de vendas, e por aí vai) e assim garantir uma presença bacana frente aos críticos especializados, o problema é o seguinte: o Metascore passou a ser um elemento de importância mais do que merecida às distribuidoras e produtoras ainda nesta fase.
Se por um lado isto parece um incentivo involuntário à melhoria da qualidade dos jogos que saem nas lojas (afinal de contas, a ideia é aumentar as notas nos sites especializados, certo?), por outro levanta uma possibilidade pra lá de desanimadora: uma pasteurização dos jogos, tendendo a uma linha de montagem. Uma forma de bolinhos e biscoitos. Algo nestes moldes, com o perdão do trocadilho. É previsível que um jogo que faça sucesso gere uma legião de imitadores, todos querendo usurpar seu trono para o bem ou para o mal.
Se antes da chegada destes agregadores já rolava uma exaustão de gêneros e temas por conta dos games que fizeram bonito frente aos jogadores – inclua aí os jogos de tiro em primeira pessoa na Segunda Guerra Mundial; já perdi a conta de quantas vezes já vi o desembarque dos Aliados na Normandia… chegou ao ponto de ser satirizado em “Conker: Live & Reloaded”, mesmo que fosse zoando “O Resgate do Soldado Ryan” – imagine isto com o respaldo de distribuidoras pensando algo nos moldes “este jogo fez sucesso e levou uma nota boa… vocês sabem o que isto quer dizer, né?” (alcança o chicote).
Do outro lado da história, temos os gamers. Enquanto é totalmente compreensível que muitos destes estejam acostumados com a ideia de usarem os números, letras, estrelinhas, bonequinhos etc… como munição para suas intermináveis discussões sobre a qualidade de determinado jogo, nunca é demais lembrar que nenhum site é o dono da verdade. Sem contar que existe muita gente que simplesmente ignora determinados jogos – ou mesmo suas análises por escrito, o que é assunto para outro post – em função destes números…
Enfim, a impressão que isto me causa é que há muita produtora optando pelo caminho mais fácil, que é ir de carona no sucesso da vez (o que acontece faz tempo), e se respaldando nos Metascores da vida na hora de pensar, planejar e “vender” seu jogo (o que só aconteceu de uns tempos pra cá). É aquilo… o Metacritic está fazendo jus ao nome, indo “além da crítica”. E aí, você confia nestes números na hora de comprar um jogo?
Fiquei imnpressionado com a superutilização daquele machine da ubisoft. Joguei prince of persia (chato até a morte) e mirror's edge (bacaninha) perto do lançamento deles. Fui jogar star wars heroes republic (médio) agora e vi que usaram a mesma machine. Acho até que já vi em outros jogos que não me lembro no momento.
De certa forma a pasteurização já existe em outras formas que não a de concepção.
Raphael, pois é – é uma coisa que defendo bastante. A disponibilização de certos motores gráficos (os engines) também fazem com que certos estúdios optem pelo óbvio. Nem todo jogo usando o Unreal Engine precisa ter aquele visual que lembra Gears of War e Unreal Tournament, né? O mesmo serviu pra BioShock (realista, mesmo que sci-fi) e American McGee's Grimm (supercartunizado, cores vivas, etc…).
Muitas vezes o reaproveitamento de Assets em motores gráficos será justamente pelo custo de desenvolvimento de novos shaders e itens que permitem uma estrutura mais personalizada do engine. É um assunto polêmico e difícil de lidar, já que, é difícil saber o que se passa dentro de tal estúdio e suas limitações com pessoal e grana para pesquisa e desenvolvimento.
Quanto ao tópico principal, acho um pouco pueril acreditar que as empresas realmente se guiem pelas notas dadas em agregadores como o Metacritics. É mais condizente acreditar que elas prefiram investir em uma fórmula já consagrada e comprovadamente lucrativa, como foi o caso dos inúmeros jogos baseados em Segunda Guerra, em uma época em que este tipo de jogo estava em voga.
Da mesma forma que existem hoje jogos como Darksiders e Dante's Inferno, que comprovadamente sugam da fonte de God of War. O que importa no fim das contas é a execução e o fã deste segmento certamente vai comprar o que ver pela frente, pelo simples fato de que ele quer sanar sua sede pelo estilo, independente de referências ou semelhanças, que aliás, são muito bem vindas em alguns casos. Mais vale um copiado bem feito do que um original meia boca.
Fala Moco! Esse lance dos engines é complicado mesmo, mas juro que fico feliz quando vejo uma direção de arte mais original – ou menos referencial – em um motor gráfico… vá lá, o Grimm é um exemplo simples (jogo de produção menos custosa, episódico, etc…), mas não se vê um fuzileiro espacial careca nele. 🙂
O lance do peso do Metacritic às distribuidoras – talvez mais do que os próprios estúdios, já que são eles quem decidem o que vai pras prateleiras (inclui aí o Steam e afins!), seja produção interna ou não – ganhou muita importância com o tempo… Seguir fórmulas de sucesso também não é novidade, o lance do Metacritic é só um sintoma disso porque agrega a impressão geral da imprensa sobre o produto.
E sem dúvida, mais vale um copiado bem feito versus uma xerox meia-boca de um gênero — compare um Bayonetta a um X-Blades. Copiar gêneros de sucesso é inevitável, e a disparidade entre a qualidade deles pode acontecer (e acontece).
Eu não vejo relação alguma entre pasteurização e Metacritic….
1) Notas dadas pela imprensa existem há décadas, e tenho certeza que os dptos de MKT sempre contabilizaram esses dados.
2) Sempre houve pasteurização… Só que antes se chamava "clone". Clone de Doom, clone de C&C, clone de Diablo, clone de qualquer jogo que estourou nas paradas. Como em qualquer indústria, há aqueles que abrem os caminhos e aqueles que seguem. E teve muito "clone" bom. Dark Forces, por exemplo, era chamado de Doom Clone e é muito melhor que o original (pelo menos no single player).
3) tem muito jogo bom de nota e ruim de loja e vice-versa. System Shock 2 mandou lembranças. Os 800 bilhões de joguinhos bizarros de DS e Ipod que vendem horrores sabe-se lá para quem, também.
4) Como você disse, metacritic não diz "O jogo X fez sucesso estrondoso por estes determinados fatores que devem ser copiados para se garantir uma repetição do sucesso".
Eu sinceramente acho que o Metacritic tem mais influência nos bate-bocas de fanboys do que nos rumos da indústria.
Edmo, como eu já falei aqui, cópia de gêneros e melhorias incrementais não são novidade. Isto acontece desde sempre, senão estaríamos jogando Pong até hoje. O negócio é que o Metascore facilitou e escancarou demais parte deste processo que os departamentos de marketing já deviam acompanhar – está tudo de uma forma tão mastigada e óbvia para todo mundo que passou a ter essa importância a mais.
E boa nota no Metacritic não garante boas vendas. Jogo de 80 pra cima na média deles é classificado como "apelo universal". Madworld tem 81. Psychonauts tem 88. Precisa dizer mais?
E enquanto certamente as notas, Metascore, etc… têm um peso reconhecível nos bate-bocas dos fãs, ele tem sua influência na indústria cada vez mais clara. Você viu o lance da Warner decidir como cobrar seus royalties de acordo com o Metascore? Jogos que são cortados da Live por ter classificação no nível "abaixo do aceitável"?
Engine, estava procurando o termo. Mas como sou leigo, não tenho vergonha 😉
Tranquilo, Raphael! Todo mundo se confunde, assim como nem todos nascem sabendo. 🙂