Prisoner of Ice: A voz do terror, mas não do jeito que você esperava
Gosto de bons livros de terror, e um dos meus autores favoritos é o americano H.P. Lovecraft. Tive a oportunidade de conhecer sua obra ao ser apresentado a Call of Cthulhu — um RPG de papel, caneta e dados que leva o mesmo nome de um de seus contos mais famosos… tanto é que o panteão fictício de divindades malignas, misteriosas e que vão além da compreensão humana se chama, aptamente, “Cthulhu Mythos”. Desde então, comecei a procurar o máximo de material baseado nisto. E não sabia da importância do sujeito na literatura até o momento.
Obviamente, comecei pelos livros reunindo seus contos. Em meio a tantas histórias envolvendo humanos (bem, ao menos alguns são, mwahahaha) esbarrando com o sobrenatural e acabam enlouquecendo, meu interesse se aguçou mais ainda (era ainda melhor que o material mostrado no RPG – afinal de contas, era a fonte!) e eu quis conferir se existiam jogos que se baseavam, diretamente ou não, na obra deste célebre cidadão de Providence, Rhode Island.
Bastou eu bater o olho na capa da revista — salvo engano, CD Expert — ver um nome para sacar a carteira e comprar a edição: Call of Cthulhu: Prisoner of Ice. Seria essa a hora em que eu veria um autêntico jogo inspirado por Lovecraft, e que levava o nome de seu magnum opus?
Mal sabia eu que estaria prestes a mergulhar em uma jornada sem volta no reino da loucura… obviamente, pelas razões erradas. Não era pela trama macabra, ou mesmo por uma jogabilidade ruim (na real, era um adventure bastante digno, ou pelo menos é assim que me lembro dele), mas sim sua dublagem nacional pra lá de meia-boca. Se tanto, este é um jogo que serve como prova cabal do quanto o mercado nacional de localização de software melhorou bastante nos últimos quinze anos, apesar de não se fazer tão presente quanto os gamers brasileiros em geral gostariam.
Enquanto certos lançamentos desta década se saíram muito bem com seu trabalho de voz em Português brasileiro, como Halo 3 e o primeiro Viva Piñata (sem contar os jogos de PlayStation 3 que vêm com vozes com um claro sotaque e vocabulário de Portugal…. não consigo jogar Heavy Rain sem imaginar que estou assistindo o programa do Bruno Aleixo), Prisoner of Ice beira o “terrir” em vários momentos. O provável culpado supremo por isto é um mero coadjuvante: o mecânico Stanley, cuja voz e interpretação pareciam uma mistura de algum persongem de música dos Mamonas Assassinas e o Tonho da Lua, da novela Mulheres de Areia.
Seguem abaixo as provas do crime, diretamente de uma longa sequência de vídeos da aventura completa no YouTube (no primeiro vídeo, o infame Stanley aparece aos 5:34; no segundo, aos 2:20):
E isso porque nem entrarei no mérito das indicações de direção no texto — que viraram “Vai dar na ponte”, “Vai dar na casa de máquinas” e afins — porque algumas piadas já nasceram prontas… e quando a melhor interpretação dos primeiros minutos do jogo é a de um cara falando uma frase em uma língua fictícia, já viu…
É óbvio que entendo que são épocas, orçamentos e presença de mercado bem diferentes de lá pra cá, mas não há razão para deixar de olhar para o passado e rir um bocado. Afinal de contas, ainda assim eu joguei o game inteiro e me diverti pacas – só não dá para negar o humor involuntário que o trabalho de dublagem da ocasião garantiu ao jogo, tornando-se para mim um dos momentos mais hilários da localização de games no país.
… e acabou que jamais joguei a edição em Inglês, e ficou por isso mesmo. Só pude jogar um jogo bacana levando o nome Call of Cthulhu quando saiu Dark Corners of the Earth — cuja produção foi, ironias da vida, um terror: o estúdio Headfirst fechando as portas em 2006, e um bravo e diminuto grupo dos funcionários restantes tocando o resto da conversão do Xbox para o PC, assim garantindo seu lançamento. Lovecraft ficaria orgulhoso.
Passando o controle: “Minhas máquinas! Minhas máquinas!!!!” Quais foram as dublagens mais toscas que você já ouviu nos games, seja lá em qual idioma for?
Destak recomenda Jigu, que indica jogos com trens
A edição carioca do jornal Destak apresentou a indicação para o meu blog. Portanto, se você chegou aqui por conta desta dica, boas vindas e sinta-se em casa! E já que esta publicação é um clássico das viagens de metrô, que tal um “top 5” do mundo dos games envolvendo a presença de trens e afins?
5) “No More Heroes” (Wii): Vá lá, este não é o primeiro jogo de pancadaria a contar com uma sequência em um metrô (deve ser tudo culpa de “Selvagens da Noite”, clássico das madrugadas na televisão, que por sua vez também teve dois jogos), mas quando o assassino profissional / otaku Travis Touchdown pega missões extras no trem, elas são bem surreais… câmeras invertidas, luzes apagadas, várias doideiras para deixar o jogador com os nervos à flor da pele.
4) “Paper Mario: The Thousand-Year Door” (GameCube): Este RPG do bigodudo mais famoso da Nintendo conta com uma grande sequência ambientada inteiramente em um trem, e ela é apresentada de uma maneira que tira o chapéu para clássicos da literatura de detetive – com direito a um investigador atrapalhado no meio do caminho.
3) “SimCity 2000” (PC): É curioso pensar no segundo jogo da série de simulação de cidade de Will Wright. Este foi a primeira edição a ter metrôs; apesar da manutenção mais alta, as linhas subterrâbneas são muito eficientes. E eu uso o tempo todo o argumento “o mundo real não é como SimCity 2000” muitas das vezes em que ouço pessoas reclamando da integração Metrô na Superfície (para quem mora fora do Rio, linhas de ônibus dedicadas que dão continuidade ao trajeto).
2) “Final Fantasy VII” (PS1, PC): Vários jogos da famosa série de RPGs da Square Enix mostram trens (inclusive como inimigos de fase, como o trem fantasmagórico de “FFVI”), mas este clássico de 1997 tem algumas sequências isoladas com isto, como o Train Graveyard – um lugar repleto de vagões abandonados. E a sequência inicial do game, em um então glorioso vídeo pré-renderizado, mostra um take aéreo da cidade de Midgar e o trem no qual Cloud Strife e seus companheiros do grupo AVALANCHE chegam para sua primeira missão.
1) “Half-Life” / “Half-Life 2” (Multi): As duas aventuras do físico Gordon Freeman começam em viagens de trem, ambas bem reveladoras. No primeiro jogo, chegar à base de Black Mesa para o que seria um dia normal de trabalho dá um clima de imersão bem bacana… e a produtora Valve repetiu a dose no segundo jogo, mas desta vez a caminho de City 17, um dos poucos refúgios da humanidade oprimida pela ameaça alienígena do Combine.
Passando o controle: Claro, estes são apenas alguns exemplos entre os trocentos outros games com passagens memoráveis em trens, metrôs e afins. Quais as suas favoritas?