Talentos.br: Pedro Toledo (BioWare)

[Post originalmente publicado no Arcadia, ligado à matéria “Talentos Brasileiros no Exterior” da Revista Digital]

Pedro Toledo

ARCADIA: Há quanto tempo você trabalha no exterior?

TOLEDO: Comecei há trabalhar na BioWare em novembro de 2007… Já tem quase três anos.

Como foi feito o contato com a BioWare?

Eu vim a saber que eles estavam procurando gente na minha área através do portal de games Gamasutra. Fiz o primeiro contato por e-mail. Depois de vários e-mails, e avaliação do meu portfolio, vieram as entrevistas por telefone e, em seguida, a entrevista ao vivo, aqui no Texas.

Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar no exterior?

A minha área de interesse, modelagem e texturização de personagens para games, ainda tem muito pouco espaço no Brasil. Portanto, eu diria que a primeira grande vantagem é o trabalho em si. Poder trabalhar como Character Artist, num estúdio de renome, em projetos incríveis, é uma realização. Além disso tem toda a maturidade da indústria daqui. A BioWare é uma empresa muito competente, líder no seu gênero de trabalho, o profissionalismo de todos é altíssimo.

O lado financeiro também é melhor. O mercado brasileiro remunera menos. Fora esses fatores diretamente relacionados ao trabalho em si tem também, claro, a experiência de morar fora. Conhecer novas terras, novos costumes. Melhorar o inglês e ampliar os horizontes. É bem divertido.

Em quais projetos você está envolvido no momento?

No momento eu trabalho no “Star Wars: The Old Republic”.

O que você acha do mercado brasileiro para o seu ramo?

O mercado brasileiro tem várias frentes que já se mostram viáveis para a nossa realidade. Aquilo que me interessa, no entanto, ainda é raro aí. Eu não tenho interesse em jogos para celulares, ou para web. O que curto mesmo é fazer parte de jogos AAA, aquelas produções enormes e com muita qualidade gráfica. Essa é uma área em que, no Brasil, ainda se tem poucas oportunidades. Há o outsourcing, claro. Eu mesmo, antes de vir para cá, trabalhava remotamente e participei de jogos como o “Guitar Hero” e “Rock Band”, que são dois títulos incríveis, mas eu queria ver como é trabalhar dentro de uma empresa dessas, e não à distância. Nesse caso depender do mercado nacional é mais complicado.

De qualquer forma, eu acho que novas oportunidades estão aparecendo. A ida da Ubi para o Brasil, com a compra da SouthLogic, mostra que eles querem investir em produção. A abertura do escritório da Blizzard e as traduções e adaptações de seus jogos para o nosso idioma também são um bom sinal. Isso mostra que o mundo já nos vê como uma opção viável.

A qualidade do artista nacional é inegável. No mercado mundial de computação gráfica nós, brasileiros, temos vários notáveis. Artistas tão bons que logo são contratados por grandes empresas de vários países. Se um dia as produções feitas no Brasil forem grandes o suficiente para segurar essa mão de obra talentosa, em território nacional, certamente a qualidade do trabalho será de nível internacional.

Lembrando ainda que, até recentemente, toda essa geração de artistas que foi para fora se educou, na área de computação gráfica, por conta própria, são auto-didatas. Agora, nos últimos anos, o Brasil viu o surgimento de várias escolas com bons cursos voltados à formação de artistas de CG. Alguns, como a Pós Graduação em Arte 3D para Jogos Digitais do CCAA, que ajudo a coordenar, têm como objetivo formar artistas voltados para o mercado mundial, e não apenas nacional.

Eu cruzo os dedos para que todos esses fatores sirvam para aumentar o nosso mercado nacional. Eu adoraria poder trabalhar, naquilo que gosto, em minha terra natal.