Half-Life 2 – Episode 2: Lidando Com as Conseqüências

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[Originalmente publicado no FinalBoss]

Após alguns adiamentos (devidos à atenção dada à versão Xbox 360 da edição The Orange Box, já que a para PS3 ficou a cargo da Electronic Arts, publisher do jogo originalmente previsto só para PC), Half-Life 2 – Episode Two já está disponível nas prateleiras de lojas e no Steam. Se os outros capítulos da série da Valve tiveram uma ótima receptividade por público e crítica, não foi à toa: em termos de jogabilidade, direção artística e narrativa, o trabalho dos caras é de tirar o chapéu. Além disto, eles contam com uma boa vantagem — a constante aprimoração de seu Source Engine, que desde o lançamento do HL2 original em 2004 vem ganhando melhorias que se fazem visíveis a cada novo capítulo da série. A espera foi longa, mas tenha certeza de que valeu a pena — e se você não jogou os anteriores, a edição The Orange Box provavelmente traz o melhor valor agregado pelo dinheiro investido.

Após a fuga de City 17, Gordon Freeman e Alyx Vance precisam levar dados obtidos da fortaleza Combine à White Forest, uma base rebelde dos humanos. Só que algumas coisas estão indicando uma possível nova invasão dos alienígenas à Terra… e se levarmos em conta que grande parte dos exércitos propriamente ditos foram aniquilados na Guerra das Sete Horas (acontecida entre o primeiro e o segundo jogo da série), é garantia de massacre dos humanos se isto se realizar. Isto e o fato dos Combines restantes — incluindo aí os Advisors, aqueles mentores em forma de larva ciborgue com poderes psiônicos — estarem fulos da vida com o material que Alyx carrega. Junte isto ao sumiço da doutora Judith Mossman e duas últimas esperanças de conter o retorno massivo dos Combine e pronto: temos mais uma grande e nova aventura repleta de ação e mistério. Para quem não jogou o anterior ou se esqueceu de alguns detalhes da trama, no começo rola um vídeo condensando os eventos de Episode One… mas diferente deste, não há um vídeo dando prévia do que virá no terceiro.

A cada novo episódio de Half-Life 2, a Valve tem apresentado algum novo elemento de jogabilidade, melhoria no engine Source, ou ambos. No primeiro, foi a inclusão da iluminação HDR como vista na demo The Lost Coast e uma melhor interação com personagens não jogáveis — no caso, a mecânica de acompanhar Alyx de lanterna em mãos, facilitando sua pontaria nos escombros sombrios de City 17; no segundo, temos isto e uma renovada no uso de veículos, mais aprimoração da iluminação, modelagem de personagens, novos efeitos de física (inlcuindo alguns pré-definidos, mas nem por isso menos impressionantes) dentre outras novidades.

Deixando estes tecnicismos de lado, desta vez o game apresenta áreas desconhecidas, como florestas, montanhas e cavernas subterrâneas onde moram os Antlions. E as novidades não terminam por aí, pois novos inimigos também trarão um mundo de dor aos jogadores: Combine Hunter, aquele inimigo que parece uma versão menor e mais feroz dos Striders; Antlion Worker, velozes filhotes do inseto gigante e que cospem ácido. Estes novos inimigos — principalmente o Hunter — impressionam em ação, provocando aquela tensão quando aparecem em ação. No entanto, nem só os inimigos contam com novidades… longe no jogo, Freeman contará com uma nova e explosiva arma que envolve o uso da Gravity Gun e exímia pontaria. Qual a situação? Claro que não contaremos aqui, senão seremos taxados de spoilers rapidinho, e com razão.

Entre o ponto inicial do game e seu desfecho, o jogador será posto à prova em várias situações de jogar seu nível de adrenalina lá no alto: emboscadas, cercos fechados, fugas de carro (com turbo, e pode ter certeza que você vai agradecer por sua existência!), momentos de conservação de munição onde você deve contar com um personagem atacando de sniper nas áreas abertas para ajudá-lo… Episode Two combina o que já havia de bacana nos episódios anteriores com novos confrontos em ambientes desconhecidos, e isto é feito de forma fantástica. Por exemplo, a última batalha do game acontece em uma grande arena (não literalmente, quando vocês jogarem entenderão o significado disto) ao invés de uma área fechada, e é seguro dizer que é um dos combates mais épicos da série Half-Life.

O game traz algumas referências bacanas a fãs de longa data da série. Um dos sobreviventes do incidente em Black Mesa, o implicante doutor Arne Magnusson, está no jogo e faz um comentário ácido sobre um certo almoço de microondas que Gordon estragou… em um easter egg do primeiro jogo! E por falar em coisas escondidas, fica o desafio de achar a referência dupla a série de TV Lost, ou mesmo um que envolve um anão de jardim e referência bastante incomum ao filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Além disto, fica a dica que o universo de Portal (demo técnica transformada em jogo na Orange Box) se interligará de alguma maneira no próximo episódio. E por falar em Episode Three, é bom já preparar o coração de antemão, porque você provavelmente ficará pasmo com o que acontece na reta final deste, e os desdobramentos que estes eventos podem trazer.

O game rende um bocado mais do que Episode One, sendo possível zerar o game entre 6 e 8 horas. No entanto, há uma impressão de maior duração por conta da variedade de tipos de cenário, localidades inéditas fora de City 17. Existem razões para jogar o game novamente, como a faixa de comentário dos produtores e o sistema de Achievements (mas atenção: jogar com os comentários ligados não destranca estas Conquistas). Assim como visto em Team Fortress 2 e Portal – cujos reviews vocês lerão aqui no FinalBoss muito em breve – estes feitos podem ser vistos em seu perfil no Steam Community, e vão das das óbvias relacionadas ao avanço no game a outras menos na cara, como roubar a granada de um Zombine ou atropelar um número determinado de inimigos com o carro. Sim, dá para ver a descrição de todos os Achievements de antemão, o que ajuda bastante na hora de uma segunda sessão do jogo.

A direção de arte de Half-Life 2 continua bacana, com cenários que parecem reais… isto é, parecem com localidades que realmente exisitiriam, ao invés do design de fase pouco inspirado de alguns shooters que vemos no mercado e que parecem depósitos de caixotes. Fábricas abandonadas, cavernas subterrâneas, vilarejos nas montanhas… tudo é interligado de forma inteligente. Enquanto isto, as melhorias gráficas do engine Source são bem aparentes: lanternas projetam sombras dos objetos no cenário, o visual dos Vortigaunts parece menos plásticos do que nas versões anteriores, sem contar alguns efeitos de física pré-definidos, como uma hora em que a ponte cai e a ferragem vai se entortando até partir, os bons efeitos de iluminação do game… é, o Source continua evoluindo e impressionando, mesmo com 3 anos de lançado.

Já a trilha sonora continua com temas de arrepiar. Em particular, a proteção de uma área de uma infestação de Antlions é embalada por um tema bem épico, empolgando bastante o jogador. Os bons diálogos continuam dignos de atenção aos pequenos detalhes, como o recruta que jura de pés juntos que costumava enfrentar os Hunters somente com as mãos, principalmente quando sua arma de preferência (AR-3, cujo modelo não existe) não está disponível; o humano que tenta falar uma expressão como um Vortigaunt diria, só para ser escorraçado por seu amigo porque o dito não fez sentido nenhum. Dá vontade de parar e ouvir os papos entre estes personagens, mesmo porque dá uma melhor percepção da trama.

Novamente, chega a ser difícil peneirar os aspectos negativos deste jogo. A primeira reclamação é que Episode Three ainda não tem data anunciada! Brincadeiras à parte, o maior problema deste jogo pode ser a falta de longevidade se o jogador simplesmente quiser terminá-lo e ignorar os Achievements e as faixas de comentário da produção… mas convenhamos, quem em sã consciência ignoraria isto (mesmo porque é um game divertido de jogar)?

Half-Life 2 – Episode Two é imperdível, e vem mostrar mais uma vez que a Valve realmente sabe o que está fazendo. Como esta produtora costuma fazer, cada nova versão de sua aventura traz melhorias em relação à anterior, seja em jogabilidade ou no versátil Source Engine. Trazendo uma ambientação mais variada e com a mesma atenção aos detalhes, o capítulo central da saga episódica de Gordon Freeman parece mais duradouro e traz momentos de tensão, resolve enigmas enquanto cria outros, tudo em um FPS repleto de ação desenfreada, raciocínio, exploração e mistério. Deixando os jogadores com um gostinho de quero mais (como nos bons seriados de mistério), Episode Two expande ainda mais o universo de Half-Life e deixa os jogadores torcendo para que a Valve anuncie e lance o terceiro capítulo o mais rápido possível.