Half-Life 2 – Episode 1: Servindo Novamente o Grande Mistério

 

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Half-Life 2: Episode 1 (PC)

[Originalmente publicado no FinalBoss]

Se a Organização das Nações Unidas tivesse cláusulas específicas ao lançamento de videogames, uma delas deveria enfatizar que empresas que lançam jogos muito bons e pretendem lançar seqüências para os mesmos não devem deixar os fãs muito tempo a ver navios. O primeiro Half-Life é um bom exemplo disto: o game reescreveu boa parte das regras dos FPS na época, com ótimos elementos de narrativa e jogabilidade. Longos seis anos depois, a empresa lança o incrível Half-Life 2 (leia nossa resenha!) que tinha jogabilidade, gráficos e som impecáveis… e ambos os jogos compartilhavam de um prazer bem dúbio: finais que mais confundiam do que explicavam, deixando os jogadores pensando “o que foi isso mesmo?!”. Desta vez, a Valve Software decidiu tomar um novo rumo para prolongar a aventura de Gordon Freeman: ao invés de demorar anos e anos fazendo uma enorme aventura, a empresa dividiu o que seria o terceiro episódio da série em uma trilogia de episódios, iniciados este ano e com previsão de chegar ao final no quarto trimestre de 2007. Utilizando recursos presentes no game original e adicionando novos elementos tecnológicos e de jogabilidade — como melhorias na iluminação, animação facial, participação maior de Alyx e Dog — Half-Life 2: Episode One pode não ter o mesmo impacto da época do lançamento do game anterior, mas certamente é uma obra de arte que prova que a Valve continua mandando bem no que faz.

Para quem ainda não jogou Half-Life 2, vamos tentar desviar dos spoilers em potencial: Gordon Freeman, Alyx e a resistência humana conseguem derrubar a Citadel (enorme fortaleza onde Dr. Breen, mediador entre os humanos e as forças alienígenas do Combine, realiza seu opressor governo de City 17)… no entanto, a dupla é resgatada no último segundo por um grupo de aliados muito inusitados – o que deixa o sinistro G-Man absoluta e irremediavelmente furioso. A trama de Episode One se resume a conseguir pegar um trem para escapar de City 17 com o resto dos refugiados… no entanto, quando a fortaleza foi comprometida, tudo o que estava convenientemente afastado da cidade passa a invadi-la, tornando as ruas um verdadeiro rastro de caos e destruição. E até mesmo as forças restantes do Combine estão com problemas, para vocês terem uma idéia da magnitude da coisa… muitos mistérios continuarão no ar. O que aconteceu com Dr. Breen? Por que os Combines restantes querem demolir a Citadel e a cidade à sua volta? Como o G-Man vai reagir a esta proverbial “bolada nas costas” que os salvadores de Alyx e Gordon deram, resgatando-o de um provável congelamento estático (“até a próxima missão, Freeman”) no último instante do game anterior?

De certa forma, podemos dizer que Episode One faz o caminho inverso de Half-Life 2: o jogador começa nos escombros da Citadel, e deve invadi-la para evitar uma catástrofe maior; logo depois, deverá fugir dela e encontrar o resto da resistência para que saiam da cidade. No entanto, quem acha que o fato da base inimiga ter perdido grande parte de seu poderio armado fez com que ela ficasse mais fácil de explorar está redonda e irremediavelmente enganado. Gordon e Alyx retornam ao centro de controle do Combine, e Gordon apenas tem a Gravity Gun… aí é que entram alguns elementos interessantes na jogabilidade, como a habilidade de Alyx de reprogramar as Roller Mines para que ataquem os inimigos; mais tarde, o jogador terá que iluminar os inimigos com a lanterna para Alyx atirar (e sim, está realmente escuro nestas partes) e derrubar os Antlions de pernas para o ar, facilitando sua execução. As balas de Alyx não acabam, e ela é praticamente imortal… “praticamente” porque se você deixá-la morrer (apesar disto ser difícil), você simplesmente não avança mais no jogo. Então tome conta da morena, mesmo que ela seja resistente que só ela!

Os inimigos velhos de guerra estão lá novamente, e ainda tem um novo: uma versão zumbi dos soldados do Combine – que são prontamente apelidados de “Zombine” por Alyx, em um dos momentos mais engraçados do jogo… a cara de “ok, acabei de fazer uma piada muito sem graça” que ela faz é a melhor! — vem, e eles são ainda mais ferozes do que os inimigos comuns, chegando até mesmo a sacar granadas, ativá-las e correr para cima de você. Fora isto, é toda aquela galeria de veículos aéreos e terrestres, super-soldados do Combine, os malditos headcrabs e “zumbis atletas” apresentados em Ravenholm que vão atrapalhar seu dia.

Se o game original já tinha um visual incrível para sua época (o distante ano de 2004, heheh), as otimizações a longo prazo no Source Engine e as novas tecnologias de iluminação só o fazem brilhar mais ainda: os efeitos de HDR deram nova vida ao jogo, e ironicamente as partes de escuridão – de deixar qualquer DOOM 3 no chinelo – também. E tudo roda bem com antialiasing, olha que beleza. E certas partes do jogo são definitivamente impressionantes pelo design propriamente dito, como o visual de partes da Citadel não visitadas no game anterior (o ambiente super claro com iluminação estourada no núcleo do reator), e mesmo a vista externa da fortaleza à distância, com pedaços em chamas caindo, uma enorme nuvem avermelhada e negra por cima, um clima bem apocalíptico.

A dublagem continua topo-de-linha, com direito a um grande monólogo (tanto a duração quanto o tom do assunto) do doutor Kleiner nos telões explicando a situação aos cidadãos restantes de City 17, ressaltando que todos deverão sair o quanto antes, que os inibidores de reprodução não funcionam mais e que os humanos poderão, erm, prolongar a espécie (e Alyx pergunta “é sério que o doutor Kleiner está sugerindo que a galera saia se pegando agora?”). Enfim, os diálogos continuam afiados, e o trabalho dos dubladores certamente passa a mensagem direitinho… incluindo aí as tiradas espertas como o “zombine” e a imitação de zumbi da Alyx. Além disto, um elemento extra que foi incluído no game foram os comentários de produção: dezenas de partes do jogo contém faixas em áudio – assim como aconteceu na demonstração técnica The Lost Coast – comentando a criação do jogo. Vale a pena jogar mais uma vez para ouvir (e ler, caso queira) o que a equipe tem a compartilhar sobre o game.

Assim como aconteceu no recente caso Sin Episodes: Emergence, a natureza episódica do jogo poderá afastar os jogadores – injustamente, devemos ressaltar – por mais que o jogo tenha boas novidades de jogabilidade, melhorias em tecnologia e afins. Em nossa experiência de jogo, apenas dois bugs ocorreram (felizmente, uma vez só cada um): em um momento, Alyx parou por completo servindo de isca para Antlions; outra foi uma tela de carregamento que nunca terminou. Felizmente, só isto aconteceu… e o sistema de distribuição Steam continua firme e forte nas correções em tempo hábil. A versão para download do jogo o deixava-o no nível Easy (fácil) como padrão, mas logo antes de rodá-lo pela primeira vez a correção já havia sido feita por um conveniente download.

A Valve se superou novamente. Episode One consegue concentrar tudo que havia de mais legal no Half-Life 2 original em aproximadamente seis horas, e ainda adiciona alguns elementos novos para a alegria dos fãs: Alyx se faz mais presente, enfatizando as ações em dupla; Dog continua um gigante gentil que não perdeu o costume de arremessar carros; o level design e a ambientação do game continuam incríveis; melhorias tecnológicas de iluminação e otimizações no engine Source… Mesmo que este não tenha o mesmo impacto de seu predecessor – afinal de contas, HL2 ainda é considerado parâmetro para FPS — Half-Life 2: Episode One dá uma lavada em muito jogo “completo” por aí… Fica a curiosidade por Episode Two, acentuada pelo trailer revelado após o término do game. E imaginar que mais um passeio em City 17 poderia ser uma roubada…